Quinta-feira, 15 de Março de 2007

Máquina do Mundo

O Universo é feito essencialmente de coisa nenhuma.

Intervalos, distâncias, buracos, porosidade etérea.

Espaço vazio, em suma.

O resto, é a matéria.

Daí, que este arrepio,

este chamá-lo e tê-lo, erguê-lo e defrontá-lo,

esta fresta de nada aberta no vazio,

deve ser um intervalo.

 

 

Podemos perceber que para António Gedeão, ciência e poesia pertencem à mesma procura imaginativa, embora ligadas a domínios diferentes de conhecimento e valor. A sua poesia nasce da intuição criativa, da experiência como homem e do conhecimento.

 

Por outro lado, Gedeão tem a sua formação como cientista/físico em que tudo gira à volta do concreto, do exacto, da experiência e do conhecimento sobre o funcionamento do mundo. Temos ainda António Gedeão professor/pedagogo, em que este procura a forma mais eficaz para transmitir o conhecimento.

 

"O primeiro desejo da minha vida foi o de ser útil em tudo o que fizesse"

 

Com palavras simples, o poeta dá a conhecer as leis mais complexas da física, do movimento, do comportamento da matéria, por forma a que tais conhecimentos sejam facilmente compreendidos pelas pessoas comuns. Assim nasce alguma da poesia de António Gedeão, em particular o poema "Máquina do Mundo".

 

Neste poema, a aproximação entre ciência e senso comum revela-se, muito rica, se olhada da mesma forma e com o mesmo sentido do mundo.

Aqui o poeta mostra bem que entre a ciência e a arte não existe fronteira.

Com este poema, o poeta exemplifica em muita simplicidade a constituição do Universo.

Propõe-nos simultaneamente duas maneiras de olhar e decifrar o visível e o invisível – o mundo e a vida como sucessão de fenómenos físicos, intelectualmente atingíveis pelas operações mentais e pela química emocional.

 

 

O Universo é feito essencialmente de coisa nenhuma.

Intervalos, distâncias, buracos, porosidade etérea.

 

Creio que António Gedeão entende a Terra e a Existência Humana como algo absolutamente irrelevante no universo.

 

Daí, que este arrepio,

 

Neste verso, o poeta poderá referir-se à vida humana: breve, efémera e fugaz, mas também espantado, desejoso de se querer conhecer, querer compreender o universo e no universo.

 

esta fresta de nada aberta no vazio,

deve ser um intervalo.

 

A que se refere o autor quando fala “da fresta de nada aberta no vazio”? À terra enquanto planeta, grão de pó perdido no universo? À vida em si, à matéria de que tudo é feito? E o “intervalo”, como última palavra do poema, poderá ser o pensamento?

 

Numa outra perspectiva poderei sentir que o poeta poderá, igualmente, estar a falar-nos do conhecimento, do saber.

 

O encanto particular da poesia de um excepcional cientista e pedagogo, como foi Rómulo de Carvalho, traduz-se na liberdade total de olharmos o mundo, de nos podermos interrogar, tão cheios de certezas como de dúvidas ou "num vazio".

publicado por margariditah às 18:17
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Quinta-feira, 8 de Março de 2007

Almada Negreiros - Tratamento de imagem de Tiago Santos - 12H

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Almada Negreiros - Tratamento de imagem de André Costa - 12H

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Quarta-feira, 7 de Março de 2007

Almada Negreiros - Tratamento de imagem de Nádia Aracy Fernandes - 12H

 

publicado por es3cebc9c12h às 14:51
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Terça-feira, 6 de Março de 2007

Almada Negreiros

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Domingo, 4 de Março de 2007

Almada Negreiros

Arlequim

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Sábado, 3 de Março de 2007

Almada Negreiros

Fernando Pessoa

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Quinta-feira, 1 de Março de 2007

Almada Negreiros

Maternidade

publicado por es3cebc9c12h às 17:55
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Quarta-feira, 28 de Fevereiro de 2007

Almada Negreiros

Retrato de Fernando Pessoa

publicado por es3cebc9c12h às 21:36
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Sexta-feira, 16 de Fevereiro de 2007

MANIFESTO ANTI-DANTAS - ALMEIDA NEGREIROS

Uma geração, que consente deixar-se representar por um Dantas é uma geração que nunca o foi! É um coio d'indigentes, d'indignos e de cegos! É uma resma de charlatães e de vendidos, e só pode parir abaixo de zero!

Abaixo a geração!

Morra o Dantas, morra! - PIM!

Uma geração com um Dantas a cavalo é um burro impotente!

Uma geração com um Dantas à prôa é uma canoa em seco!

O Dantas é um cigano!

O Dantas é meio cigano!

O Dantas saberá gramática, saberá syntase, saberá medicina, saberá fazer ceias para cardeais, saberá tudo menos escrever que é a única coisa que ele faz!

O Dantas pesca tanto de poesia que até fax sonetos com ligas de duquesas!

O Dantas é habilidoso!

O Dantas veste-se mal!

O Dantas usa ceroulas de malha!

O Dantas especula e inócula os concubinos!

O Dantas é Dantas!

O Dantas é Júlio!

Morra o Dantas, morra! - PIM!

O Dantas fez uma sorôr Mariana que tanto o podia ser como a sorôr Inez, ou a Ignez de Castro, ou a Leonor de Telles, ou o Mestre d'Aviz, ou a Dona Constança, ou a Nau Catrineta, ou a Maria Rapaz!

E o Dantas teve cláque! E o Dantas teve palmas! E o Dantas agradeceu!

O Dantas é um ciganão!

Não é preciso ir para o Rossio p'ra se ser pantomineiro, basta ser-se pantomineiro!

Não é preciso disfarçar-se p'ra se ser salteador, basta escrever como o Dantas! Basta não ter escrúpulos nem morais, nem artísticos, nem humanos! Basta andar com as modas, com as políticas e com as opiniões! Basta usar o tal sorrisinho, basta ser muito delicado, e usar côco e olhos meigos! Basta ser Judas! Basta ser Dantas!

Morra o Dantas, morra! - PIM!

O Dantas nasceu para provar que nem todos os que escrevem sabem escrever!

O Dantas é um autómato que deita p'ra fóra o que a gente já sabe que vai sair... mas é preciso deitar dinheiro!

O Dantas é um soneto d'elle-próprio!

O Dantas em génio nem chega a pólvora seca e em talento é pim-pam-pum!

O Dantas nú é horroroso!

O Dantas cheira mal da boca!

Morra o Dantas, morra! - PIM!

O Dantas é o escárneo da consciência! Se o Dantas é português eu quero ser espanhol!

O Dantas é a vergonha da intelectualidade portuguesa! O Dantas é a meta da decadência mental!

E ainda há quem não córe quando diz admirar o Dantas!

E ainda há quem lhe estenda a mão!

E quem lhe lave a roupa!

E quem tem dó do Dantas!

E ainda há quem duvide de que o Dantas não vale nada, e que não sabe nada, e que nem é inteligente, nem decente, nem zero!

Vocês sabem quem é a sorôr Mariana do Dantas? Eu vou-lhes contar:

A princípio, por cartazes, entrevistas e outras preparações com as quais nada temos que ver, pensei tratar-se de sorôr Mariana Alcoforado a pseudo autora d'aquellas cartas francesas que dois ilustres senhores desta terra não descansaram enquanto não estragaram para português. Quando subiu o pano também não fui capaz de distinguir porque era noite muito escura e só depois de meio acto é que descobri que era de madrugada porque o Bispo de Beja disse que tinha estado à espera do nascer do sol!

A Mariana vem descendo uma escada estreitíssima mas não vem só, traz também o Chamilly que eu não cheguei a ver, ouvindo apenas uma voz muito conhecida aqui na Brasileira do Chiado. Pouco depois o Bispo de Beja é que me disse que ele trazia calções vermelhos.

A Mariana e o Chamilly estão sozinhos em cena, e às escuras, dando a entender perfeitamente que fizeram indecências no quarto. Depois o Chamilly, completamente satisfeito despede-se e salta pela janela com grande mágoa da freira lacrimosa. E ainda hoje os turistas teem ocasião de observar as grades arredondadas da janela do quinto andar do Convento da Conceição de Beja na Rua do Touro, por onde se diz que fugiu o célebre capitão de cavalos em Paris e dentista em Lisboa.

A Mariana que é histérica começa a chorar desatinadamente nos braços da sua confidente e excelente pau de cabeleira sorôr Ignez.

... veem descendo p'la dita estreitíssima escada, várias Marianas todas iguais e de candeias acesas menos uma que usa óculos e bengala e anda toda curvada para a frente o que quer dizer que é a abadessa. E seria até um excelente personificação das bruxas de Goya se quando falasse não tivesse aquela voz tão fresca e maviosa da tia Felicidade da vizinha do lado. E reparando nos dois vultos interroga espaçadamente, com cadência, austeridade e imensa falta de corda... quem está aí?... e de candeias apagadas?

Foi o vento, dizem as pobres inocentes varadas de terror... e a abadessa que só é velha nos óculos, na bengala e em andar curvada para a frente manda tocar a sineta que é um dó de alma o ouvi-la assim tão debilitava. Vão todas para o coro, mas eis que, de repente batem no portão e sem se anunciar, sobe a escada e entra no salão um Bispo de Beja que quando era novo fez brégeirices com a menina do chocolate.

Agora completamente emendado revela à abadessa que sabe por cartas que há homens que vão às mulheres do convento e que ainda há pouco vira um de cavalo a saltar pela janela. A abadessa diz que efectivamente já há tempos que vinha dando pela falta de galinhas e tão inocentinha, coitada, que naqueles oitenta anos ainda não teve tempo para descobrir a razão da humanidade estar dividida em homens e em mulheres. Depois de sérios embaraços do Bispo é que ela deu com o atrevimento e mandou chamar as duas freiras de há pouco com as candeias apagadas. Nesta altura esta peça policial toma um bocado de interesse porque o bispo ora parece um polícia de investigação disfarçado de bispo, ora um bispo com a falta de delicadeza de um polícia de investigação, e tão perspicaz que descobre em menos de meio minuto o que o público já está farto de saber - que a Mariana dormiu com o Noel. O pior é que a Mariana foi à serra com as indiscrições do bispo e desata a berrar, a berrar como quem se estava marimbando para tudo aquilo. Esteve mesmo para se estrear com um par de murros na corôa do bispo no que se mostrou de um atrevimento, de uma insolência e de uma decisão refilona que excedeu todas as expectativas.

Ouve-se uma corneta tocar uma marcha de clarins e Mariana sentindo nas patas dos cavalos toda a alma do seu preferido foi qual pardalito engaiolado a correr até às grades da janela a gritar desalmadamente pelo seu Noel. Grita, assobia e rodopia e pia e rasga-se e magoa-se e cai de costas com um acidente do qual já previamente tinha avisado o público e o pano também cai e o espectador também cai da paciência abaixo e desata numa destas pateadas tão enormes e tão monumentais que todos os jornais de Lisboa no dia seguinte foram unânimes naquele êxito teatral do Dantas.

A única consolação que os espectadores decentes tiveram foi a certeza de que aquilo não era a sorôr Mariana Alcoforado mas sim uma merdariana - aldantascufurado que tinha cheliques e exageros sexuais.

Continua o senhor Dantas a escrever assim que há-de ganhar muito com o alcufurado e há-de ver, que ainda apanha uma estátua por um ourives do Porto, e uma exposição das maquetes para o seu monumento erecto por subscrição nacional do Século a favor dos feridos da guerra, e a praça de Camões muda em praça Dr. Júlio Dantas, e com as festas da cidade pelos aniversários, e sabonetes em conta "Júlio Dantas", e pasta para os dentes, e graxa Dantas para as botas, e comprimidos Dantas, e autoclismos Dantas e Dantas, Dantas, Dantas... e limonada Dantas - magnesia.

E fique sabendo o Dantas que se um dia houver justiça em Portugal todo o mundo saberá que o autor dos Lusíadas é o Dantas que num rasgo memorável de modestia só consentiu a glória do seu pseudónimo Camões.

E fique sabendo o Dantas que se todos fossem como eu haveria tais munições de manguitos que levariam dois séculos a gastar.

Mas julgais que nisto se resume a literatura portuguesa? Não! Mil vezes não!

Temos além disto o Chianca que já fez rimas para Aljubarrota que deixou de ser a derrota dos Castelhanos para ser a derrota do Chianca!

E as pinoquices de Vasco Mendonça Alves passadas no tempo da avozinha! E as infelicidades do Ramada Curto! E o talento insólito do Urbano Rodrigues! E as gaitadas do Brun! E as traduções só para homem do ilustríssimo excelentíssimo senhor Mello Barreto! E o Frei Mata Nunes Moxo! E a Ines sifilítica do Faustino! E as imbecilidades de Sousa Costa! E mais pedantices do Dantas! E Alberto Sousa, o Dantas do desenho! E os jornalistas do Século e da Capital e do Notícias e de todos os jornais, todos os jornais! E os actores de todos os teatros!

E todos os pintores das belas artes, e todos os artistas de Portugal que eu não gosto! E os da Águia do Porto e os palermas de Coimbra! E a estupidez de Oldemiro César e o Doutor José de Figueiras Amante do museu o ah! oh! os Sousa Pinto e os burros de Cacilhas e os menús de Alfredo Guisado! E o raquitico Albino Forjaz de Sampaio, crítico da Luta a que o Fialho com imensa piada intrujou de que tinha talento! E todos os que são políticos e artistas! E as exposições anuais de Belas Artes! E todas as maquetas do Marquês de Pombal e as de Camões em Paris! E os Vaz, o Estrela, os Lacerda, os Lucena, os Rosa, os Costa, os Almeida, os Camachos, os Cunhas, os Carneiros, os Barros, os Silva, os Gomes, os velhos, os idiotas, os imbecis, os párias, os ascetas, os arrangistas, os impotentes, os acelerados, os Lopes, os Peixotos, os Mota, os Godinho, os Teixeira, os Camar, o diabo que os leve, os Constantino, os Grave, os Mantua, os Bahia, os Mendonça, os Brazão, os Alves, os Albuquerques, os Sousa, e todos os Dantas que houver por aí!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

E as convicções urgentes do homem Cristo pai e as convenções catitas do homem Cristo filho!...

E os concertos do Blanch! E as estátuas ao leme! ao Eça e ao despertar de tudo! E tudo o que seja arte em Portugal! E tudo! Tudo por causa do Dantas!

Morra o Dantas, morra! - PIM!

Portugal que com todos estes senhores conseguiu a classificação do país mais atrasado da Europa e de todo o mundo! O país mais selvagem de todas as Áfricas! O exílio dos degredados e dos indiferentes! A África reclusa dos europeus!

O entulho das desvantagens e dos sobejos! Portugal inteiro há-de abrir os olhos um dia - se é que a cegueira não é incurável e então gritará comigo, a meu lado, a necessidade que Portugal tem de ser qualquer coisa de asseado!

Morra o Dantas! Morra! - PIM!

José Almeida Negreiros, Poeta d'Orpheu Futurista e Tudo

publicado por es3cebc9c12h às 16:11
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